segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

José Sarney

Joãosinho Trinta, o gênio da alegria

Gonçalves Dias, o grande poeta do Maranhão, na Canção do Exílio dizia que “nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Mas temos também nossos Joãos que cantam sem sabiá. Agora desaparece mais um deles, Joãosinho Trinta, o carnavalesco, o homem de talento, de originalidade e imaginação, sendo uma referência na cultura popular brasileira, onde cantava e fazia multidões cantarem. Tivemos o nosso outro João, o João do Vale, das canções marotas, poeta musical, que impregnou suas músicas com a picardia maranhense, naquele jeito bem maranhense,sem esquecer suas raízes, seu barro e seu chão. “Pega na fulô” “Peba na pimenta”, “Pipira me mordeu” e tantas mais. Um dia perguntei-lhe: “João você sabe ler?”. Respondeu: “ler eu sei, mas aqueles (iii) pinguinhos é que me atrapalham”. Ele cantava mais que o sabiá. E o outro João? É o do mês de junho o São João que eu não sei se nasceu na Palestina ou aqui, mas é aqui que ele canta nas festas juninas, desde a quadrilha aos cordões de bumba-meu-boi, com “Coxinho chegou lá no céu…” com tambores e faz os anjos entrarem no ritmo do boi de matraca,de Pindaré,de Axixá e tantos e tantos. Outro dia perdemos a nossa Dona Têtê do Cucuriá. Joãosinho nasceu João, tinha um Clemente, depois um Jorge, também de santo festeiro no Tambor de Mina (camdoblé) no meio e, finalmente Trinta, que lhe marca e o renome. Aos 18 anos larga S.Luís e vai para o Rio estudar balé clássico, onde apareceu na Aida e outra opera de que não recordo mais. Saiu para o mundo do Carnaval, onde afirmou seu grande talento,seu gênio para as cores,as brilhantes fantasias, os enredos cheios de segredos e também quebrou tabus nos temas “Vamos vestir a camisinha meu amor”, o mundo encantado da alegria, que ele mesmo representava na sua esfuziante personalidade de olhos vivos e alertas que não escondiam um coração de uma alma de gente muito boa. Foi pioneiro e inovador na construção dos grandes desfiles, na introdução do merchandising nas Escolas de Samba, da polêmica, com seu Cristo proibido pela Justiça, que ele cobriu com plástico e uma frase “mesmo censurado, rogai por nós”. Dele fui grande amigo e até palpiteiro quando fez o enredo do “O Rei de França na Ilha da Assombração”, a lenda do Rei Dom Sebastião encantado nas praias do Maranhão. Tanta vida, tanto vigor, cabeça sempre a imaginar coisas, em 2003 sofre um AVC e chega a visitar a morte. Fica com seqüelas e no Sarah, onde fui visitá-lo, com grande esforço reabilita-se, volta a sonhar, escreve enredos e não sossega. Vem outro AVC em 2006. A partir daí ele luta em seu calvário, mas não desiste. Volta ao Maranhão, e estava envolvido na criação de um grande enredo para o desfile de 400 anos da sua cidade, que ocorre em 2012. “Quem gosta de lixo é rico, pobre gosta de luxo”, foi provérbio que se tornou verdade e que marcou o Carnaval de sempre. Quis Deus que depois de ser do Brasil e do mundo, viesse deixar a relíquia do seu corpo no chão de sua terra natal, onde ouvirá perpetuamente os folguedos da cidade,lembrando seu nome: Joãosinho Trinta.

José Sarney foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 55 anos de vida pública. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras (desde 1981) e da Academia das Ciências de Lisboa

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