quinta-feira, 21 de junho de 2012

Filósofo francês defende o voto obrigatório em debate no Senado


A participação dos cidadãos no dia a dia da política é tão importante para a democracia que justifica até mesmo o voto obrigatório. É o que pregou o filósofo francês Francis Wolff na noite de quarta-feira durante debate sobre o apolitismo, o primeiro do Fórum Senado Brasil 2012, que prossegue nesta quinta-feira (21). Wolff acredita que quando a população se distancia da política, de cara abre espaço para a ação de políticos pouco interessados no bem-estar da comunidade. Num horizonte mais longo, essa ausência de interesse acaba por levar ao autoritarismo, quando não à instalação de regimes ditatoriais. O voto obrigatório, ainda que pareça antipático, e para muitos uma porta aberta à manipulação de massas desinformadas, instaria os cidadãos ao seu dever de participar da política, pelo menos em época de eleições. O filósofo mencionou com preocupação os números da abstenção registrados nas recentes eleições presidenciais legislativas francesas: 42,7% no primeiro turno e 44% no segundo turno, sendo cerca de 50% no caso dos jovens. Naquele país, o voto é facultativo. Em entrevista ao Jornal do Senado reproduzida pela Agência Senado, o filósofo citou outros mecanismos destinados a tornar mais legítimos os resultados eleitorais. A Sérvia, por exemplo, aprovou recentemente uma lei que anula as eleições quando a porcentagem de votos brancos e nulos atinge certo patamar.

Consumismo

Wolff observou na conferência de quarta que, depois de se tornar sujeito da história em lutas para derrubar regimes ditatoriais e construir a democracia, o povo se utiliza da liberdade conquistada para não se envolver na prática do processo democrático. É um paradoxo, segundo o estudioso, que se configura numa atitude apolítica, na sua opinião extremamente danosa  à democracia. – A conquista da democracia mobiliza toda a sua energia, mas a posse o aborrece – afirmou o filósofo, que é professor da Escola Normal Superior de Paris. Para Francis Wolff, o apolitismo pode se manifestar de diversas formas, desde a abstenção eleitoral até o consumismo exacerbado. Curiosamente, esse desinteresse seria uma consequência do individualismo gerado pela liberdade alcançada com o advento da democracia, o que o distingue do egoísmo. Ao adquirir mais liberdade, o indivíduo diminui sua dependência da comunidade, mas o que é a princípio um benefício gera depois o que Wolff chama de “efeito colateral”. Na opinião do filósofo, isso faz com que as pessoas se excluam da vida pública considerando a ampla liberdade de atuação que conquistaram na vida privada. Mas como “não há vácuos de poder”, segundo Wolff, os cidadãos entregam seu poder de decisão a “políticos profissionais”. Sem cobranças, esse grupo fica livre para aprovar ou impor medidas distanciadas das verdadeiras necessidades e desejos dos cidadãos.

Brasil

Wolff considera o período em que lecionou no Brasil, entre 1980 e 1984, o mais importante de sua vida política, quando assistiu a transição do país à democracia – um processo, a seu ver muito bem-sucedido. Segundo ele, a ditadura forçosamente transforma tudo em política, se apropriando de dimensões como amor, esporte e arte para ações a seu favor, reduzindo a política formal a um “jogo de fantoches”.
Como exemplo, Wolff lembrou que em 1970, no auge do regime militar, intelectuais brasileiros diziam que o Brasil não podia ganhar a Copa do Mundo, pois o feito daria força à ditadura. Com a vitória do Brasil, lembrou, parecia “só haver futebol” no país:
– Mas será que não havia algo de político nessa paixão? – questiona.

Programação

O Fórum Senado Brasil 2012 promoverá uma série de conferências, gratuitas ao público, com o objetivo de estimular o debate de temas considerados relevantes para a atividade legislativa e para o desenvolvimento do país. Além de Francis Wolff, outros dez pensadores participarão dos debates, que acontecem até o dia 7 de agosto, sempre às 18h30, no auditório do Interlegis. Na abertura dos trabalhos nesta quarta-feira, o embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da comissão organizadora do seminário, destacou a preocupação do presidente do Senado, José Sarney, de “articular a massa cinzenta” de um país que atinge o posto de sexta economia do mundo. Moscardo disse esperar que as palavras dos intelectuais convidados provoquem a elite a pensar sobre o país:
– É preciso retomar o entusiasmo. Qual é o projeto que estamos formulando para o Brasil? – indagou.
As inscrições para participar do fórum são gratuitas e podem ser feitas no local ou pela internet: www.senado.gov.br/forumsenado.


Agência Senado


Professor da Sorbonne fala sobre o consenso na democracia

O professor da Universidade Sorbonne de Paris e doutor em filosofia, Charles Girard, palestrante de hoje do Fórum Senado, considera que "duas exigências próprias ao regime democrático explicam esse desejo de unanimidade. De um lado, cada indivíduo, enquanto cidadão, deve ser reconhecido como igual em direito como qualquer outro. De outro, o consentimento dos cidadãos é a fonte de todo poder legítimo". Girard, no entanto,observa : "Apesar de tudo, o consenso ameaça a democracia. Esperar que ele se forme espontaneamente para agir é, na realidade, renunciar a agir – porque em pequenas sociedades, como nas sociedades de massa contemporâneas, não existe unanimidade". E completa: "Abandonar toda referência à unanimidade é coisa a considerar". Hoje, a partir das 19h, no auditório do Interlegis, no Senado, os inscritos no Fórum Senado Brasil 2012 (inscrições) poderão conferir as reflexões do professor Charles Girard.

Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado 

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