quinta-feira, 27 de setembro de 2012

ENTREVISTA - Zélia Maria Cardoso de Mello

“Até dinheiro de minha mãe foi bloqueado”, diz Zélia 

Simone Cavalcanti/ Brasil Econômico

Zélia Cardoso de Mello foi a primeira e única mulher a ocupar o cargo de ministra da Fazenda no Brasil. A mentora intelectual do Plano Collor, que atualmente vive em New York (EUA) com os dois filhos que teve do casamento com o ator e humorista Chico Anysio, fala ao BRASIL ECONÔMICO sobre o momento econômico do Brasil e conta que sua mãe teve recursos bloqueados com o confisco da poupança e contas correntes em 16 de março de 1990.

Pensando hoje, a senhora acredita que haveria uma outra possibilidade de frear a inflação naquela época sem o confisco das aplicações financeiras? Por quê?

Olha, esta eu vou passar porque já falei tanto nisto que nem eu aguento mais escutar meus argumentos.

A sra. também teve seus recursos de aplicações bloqueados?

Sim, mas mais relevante é o fato de que minha mãe havia vendido uma casa uma semana antes e teve os recursos bloqueados.

Como a sra. avalia a economia brasileira hoje?

No geral, a economia vai bem, mas acho que há problemas não resolvidos e não enfrentados. Nada novo, tipo reforma tributária, custo Brasil, educação etc...

E a percepção do mercado americano sobre a situação econômica do Brasil?

O mercado já foi mais otimista e mais positivo do que é hoje, mas ainda é muito boa a avaliação. O Brasil é visto como uma economia que tem um crescimento pequeno, mas consistente, e há confiança no governo, nas autoridades econômicas, o que é o mais importante.

O que mudou nesse olhar estrangeiro últimos 20 anos?

Confiança acho que é a melhor palavra para definir o que mudou.

Na sua avaliação, o que foi feito durante sua gestão que pode ter contribuído para a melhora da equação econômica?

Acho que desde o governo (José) Sarney, com a gestão do ministro (da Fazenda, Dilson) Funaro, depois (Luiz Carlos) Bresser e, depois, na minha gestão, foram sendo feitas várias mudanças estruturais que possibilitaram o sucesso do Plano Real, que trouxe a estabilidade monetária que era fundamental para o desenvolvimento econômico.

Como a sra. vê o programa de concessões de rodovias e ferrovias que a presidente Dilma Rousseff lançou recentemente?

Não sei porque demoraram tanto para fazer algo tão necessário e óbvio.

Se desde o governo Collor já havia um pensamento de privatização, que foi seguido por FHC, pode-se dizer que paramos no tempo nos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva em relação a isso?

Sim, paramos no tempo.

Como a sra. avalia o nível de inflação brasileira hoje, rodando a 5%, mesmo com a atividade apontando para um crescimento menor do que 2% neste ano?

O problema do Brasil é ser uma economia baseada no consumo e crédito, ou seja, foram criados vários mecanismos de financiamento e ao mesmo tempo há um gargalo na oferta, devido a problemas estruturais, de custo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acompanhe

Clique para ampliar