segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sem decoro: denúncia feita ao Conselho de Ética do Senado taxa Randolfe de mentiroso

José Marques Jardim
Da Editoria/
Tribuna Amapaense

Afirmação é sustentada nas negativas feitas pelo senador, sobre acusações de propinagem. Depois do laudo de Molina, comprovando assinaturas, ele mudou o discurso

O mais novo capítulo da história que tem revelado o rosto por trás da máscara de moralidade usada pelo senador Randolfe Rodrigues começou a ser revelado há cerca de duas semanas. No último dia 25 de maio, o Presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal, João Alberto Souza recebeu uma denúncia contra o político do PSOL do Amapá. Mais uma para engrossar os calhamaços de papel que têm desembarcado em Brasília, desde março e mostrado ao Brasil um Randolfe Rodrigues bem diferente daquele que se levantou contra Demóstenes Torres e o derrubou do Senado da República. O crime foi o mesmo pelo qual ele é hoje acusado, corrupção. Os eleitores do senador mais jovem do Brasil, também têm assistido atônitos, às revelações bombásticas e semanais sobre as práticas denunciadas e supostamente praticadas por Rodrigues em sua trajetória política, que vai da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá, até a chegada ao Senado, presente da Operação Mãos Limpas deflagradas curiosamente às vésperas da eleição de 2010. De acordo com a denúncia entregue ao Conselho, Randolfe Rodrigues é um mentiroso e faltou com decoro parlamentar. A afirmação é sustentada com base nas declarações dadas pelo senador, quando ele usou a tribuna e negou veementemente o recebimento de propina paga pelo então governador João Alberto Capiberibe em troca de apoio político entre os anos de 1999 a 2002, período em que Randolfe Rodrigues era deputado estadual eleito pelo PT. Ainda na tribuna, o parlamentar também declarou serem falsas as assinaturas atribuídas a ele, que constam nos recibos reconhecidos em cartório no valor de R$ 20 mil. Seria esta a quantia estipulada por Capiberibe para comprar o voto favorável de Randolfe em tudo que fosse de interesse do governo. 




















O discurso inflamado no plenário foi tido como mentiroso a partir do resultado da perícia feita nas assinaturas do senador. O documento é respaldado por ninguém menos que Ricardo Molina de Figueiredo o mais renomado profissional da perícia forense do País. Molina trabalhou no "Caso PC Farias" e foi peça fundamental quando contraditou a tese de Badan Palhares, dando à polícia, elementos novos e contundentes que levantaram suspeitas contra o outro perito. Molina, em seu laudo grafotécnico afirma categoricamente que foi Randolfe Rodrigues quem assinou os recibos atestando o recebimento de R$ 20 mil. De acordo com as denúncias, teria sido esta a quantia que engordou o salário do então deputado que recebia pouco mais de R$5 mil. Ainda no laudo, o perito também concluiu não ter havido qualquer montagem ou transposição. O fato fez mudar o discurso do senador, que rapidamente reconheceu ter assinado os papéis deixando de lado os ataques ferozes aos adversários. Mas foi só. O passo seguinte de Randolfe Rodrigues foi o silêncio. Uma mudez que levanta inúmeras dúvidas e especulações sobre sua conduta. Afinal, ele começou o mandato aproveitando à exaustão os holofotes e flashes da imprensa nacional. Pronunciava-se diariamente em programas televisivos que iam do jornalístico ao humorístico, sempre criticando a conduta de colegas acusados de envolvimento com fatos ilícitos. Foi um dos mentores da CPI que investigou as ligações escusas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos de peso e renome no Congresso Federal. Um deles, Demóstenes Torres, transformado em alvo e eliminado por Randolfe. Estaria surgindo um novo caçador de corruptos a exemplo de Fernando Collor de Melo, que usou a perseguição aos "marajás" de Brasília como marketing de campanha e foi eleito Presidente da República, para logo em seguida ser tragado para dentro de seu próprio inferno pessoal. Randolfe armou praticamente a mesma estratégia. Escolheu a bandeira política que mais comove e emociona o eleitor, o combate à corrupção. A vitória nas eleições veio de bandeja e já que tudo estava perfeito, agora bastava mirar em um alvo e mostrar serviço. Ele só esqueceu que "pegadas" e "digitais" sempre ficam no caminho. E elas são, hoje, as inúmeras assinaturas que constam nos recibos periciados e que podem embasar até mesmo um pedido de cassação de mandato a ser feito ao Conselho de Ética do Senado. A denúncia endereçada ao senador João Alberto Souza, com recebimento em 25 de maio de 2013, como primeiro passo pede a intimação de Randolfe Rodrigues considerando o número substancial de itens que o incriminam, entre eles, as assinaturas periciadas e de autoria confirmada por Ricardo Molina, que contraditaram o senador e o transformaram de arauto da moralidade em mentiroso, em um curto período de tempo. Cabe ao Conselho, dar continuidade à ação chamando Randolfe Rodrigues para ser ouvido, como pede a denúncia de onze páginas. 

Randolfe e seus bens           


Mas as denúncias contra o senador Randolfe vão além do recebimento de propina. Um levantamento divulgado semana passada pela Tribuna Amapaense mostrou inúmeros imóveis com propriedade atribuída a ele e colocados em nome de terceiros, no caso a mãe e o padrasto.  O montante dos bens relacionados chega a R$ 5 milhões, algo impossível de ser adquirido com o salário que ele diz ganhar como professor, algo em torno de R$3 mil, ou com os vencimentos do Senado, que chegam a R$26.723,13. Mais uma pergunta se faz diante de tais informações: De onde veio o dinheiro para comprar casas, galpões e prédios espalhados por Macapá? Assim como as outras, Randolfe Rodrigues calou diante desta pergunta e permanece mudo. Ele também não disse nada sobre o convênio auditado pelo Tribunal de Contas do Estado na época em que era presidente do Centro de Juventude Chaguinha, onde foram encontradas inúmeras irregularidades que vão da falsificação de assinaturas a endereços falsos nas propostas de prestação de serviço. A aprovação das contas de Randolfe, na época, causou estranheza e o caso foi parar no Ministério Público, que afastou conselheiros e funcionários do alto escalão do TCE. O convênio entre GEA e Centro Chaguinha foi assinado quando Randolfe ainda sonhava com a Assembleia Legislativa. O governador era João Alberto Capiberibe, também acusado nas denúncias atuais feitas ao Senado, Tribunal Superior Eleitoral e Procuradoria da República, de ter pago "mensalinho" ao hoje senador do PSOL do Amapá. Ambos têm o nome nos escândalos que levaram o Amapá a ser projetado de forma negativa no cenário nacional. Capiberibe já havia se antecipado quando foi cassado por compra de votos e recebeu o título de ser o primeiro senador do Brasil nesta condição. O desfecho para eles está nas mãos dos políticos e ministros de Brasília, enquanto por aqui o que existe é apenas o silêncio.

Comentário do "Amapá no Congresso": 

Esta matéria nos foi enviada por nossos leitores. O “Amapá no Congresso” é espaço democrático e plural de ampla participação de todos os setores políticos do Amapá. Por isso, o senador Randolfe Rodrigues, se desejar, terá todo espaço que necessitar para contraditar argumentos e fatos da matéria. Basta nos enviar nota ou matéria para o endereço saidib@ig.com.br .

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